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CAPÍTULO SEIS

Quando o avião do FBI aterrou na pista do Syracuse Hancock International Airport, Riley lembrou-se de algo que o pai lhe tinha dito no sonho da noite anterior.

“Só és útil a quem já está morto.”

Riley ficou afetada com a ironia. Este era provavelmente o primeiro caso que lhe fora atribuído onde alguém ainda não tinha sido assassinado.

Mas é provável que mude em breve, Pensou.

Estava particularmente preocupada com Kelsey Sprigge. Riley queria conhecer aquela mulher pessoalmente e certificar-se de que estava bem. Depois, dependeria de Riley e de Bill que assim continuasse; e isso implicava localizar Shane Hatcher e prendê-lo novamente.

À medida que o avião se aproximava do terminal, Riley viu que tinham viajado até um mundo invernoso. Apesar da pista estar limpa, enormes montanhas nevadas mostravam a quantidade de trabalho que os equipamentos de limpeza tinham tido recentemente.

Era uma mudança de cenário abrupta em relação à Virginia – e uma mudança bem-vinda. Riley compreendeu naquele momento o quanto precisava de um novo desafio. Ligara a Gabriela de Quantico a explicar que estaria fora a trabalhar num caso. Gabriela ficara feliz por ela e garantiu-lhe que tomaria conta de April.

Quando o avião parou, Riley e Bill pegaram nos seus haveres e desceram as escadas rumo à pista gelada. Quando sentiu o choque do frio extremo no seu rosto, Riley não escondeu a sua satisfação por lhe terem dado um casaco bem quente em Quantico.

Dois homens abordaram-nos e apresentaram-se como Agentes McGill e Newton do departamento de Syracuse.

“Estamos aqui para ajudar no que for preciso,” Disse McGill a Bill e Riley enquanto se apressavam rumo ao terminal.

Riley fez a primeira pergunta que lhe veio à cabeça.

“Têm pessoal a vigiar Kelsey Sprigge? Têm a certeza de que ela está em segurança?”

“Alguns polícias estão à porta da sua casa em Searcy,” Disse Newton. “Temos a certeza de que está bem.”

Riley desejava ter tanta certeza.

Bill disse, “Ok, neste momento só precisamos de uma viatura para irmos até Searcy.”

McGill disse, “ Searcy não fica muito longe de Syracuse e as estradas estão limpas. Trouxemos um SUV que podem usar mas… estão habituados a conduzir condições destas?”

“Sabem, é que Syracuse ganha sempre o Prémio de Golden Snowball,” Acrescentou Newton com orgulho imoderado.

“Golden Snowball?” Perguntou Riley.

“É o prémio do estado de Nova Iorque para quem tem mais neve,” Disse McGill. “Nós somos os campeões. Temos um troféu que o comprova.”

“Talvez um de nós devesse conduzir-vos até lá,” Disse Newton.

Bill deu uma risada, “Obrigado, mas acho que conseguimos. Tive um trabalho de inverno no Dakota do Norte há alguns anos atrás. Fartei-me de conduzir por lá.”

Apesar de não se manifestar, Riley também se sentia preparada para aquele tipo de condução. Aprendera a conduzir nas montanhas da Virginia. A neve lá nunca era tão profunda como aqui, mas as estradas secundárias nunca estavam desimpedidas rapidamente. O mais certo era demorar o mesmo tempo que qualquer outra pessoa a circular naquelas estradas geladas.

Mas não se importava que Bill conduzisse. Naquele momento, estava preocupada com a segurança de Kelsey Sprigge. Bill pegou nas chaves e partiram.

“Devo dizer que me sabe bem estarmos a trabalhar outra vez juntos,” Disse Bill enquanto conduzia. “É capaz de ser egoísta da minha parte. Gosto de trabalhar com a Lucy mas não é a mesma coisa.”

Riley sorriu. Também ela se sentia bem em trabalhar novamente com Bill.

“Ainda assim, por um lado não queria que o teu regresso fosse com este caso,” Acrescentou Bill.

“Porque não?” Perguntou Riley surpreendida.

Bill abanou a cabeça.

“Tenho um mau pressentimento,” Disse ele. “Lembra-te, eu também conheci o Hatcher. É preciso muito para me assustar mas… bem, ele é qualquer coisa de diferente.”

Riley não respondeu, mas não conseguia discordar. Ela sabia que Hatcher tinha alarmado Bill no decorrer daquela visita Com o seu instinto excecional, Hatcher tinha feito observações astutas sobre a vida pessoal de Bill.

Riley lembrava-se de Hatcher apontar para o dedo anelar de Bill e dizer:

“Não vale a pena conciliar-se com a sua mulher. Não é possível.”

Hatcher tinha razão e Bill estava agora a meio de um divórcio tudo menos amigável.

No fim da mesma visita, ele dissera algo a Riley que ainda a assombrava.

“Pare de o combater.”

Até hoje, ela não sabia a que Hatcher se referia. Mas Riley sentia o pavor inexplicável de que um dia descobriria.

*

Um pouco mais tarde, Bill estacionou a viatura junto a uma pilha de neve no exterior da casa de Kelsey Sprigge em Searcy. Riley viu um carro da polícia estacionado ali próximo com dois polícias desfardados no seu interior. Mas dois polícias num carro não lhe inspiravam muita confiança. O criminoso cruel e brilhante que fugira de Sing Sing podia tratar deles em dois tempos se a isso se dispusesse.

Bill e Riley saíram do carro e mostraram os seus distintivos aos polícias. Depois caminharam no passeio limpo em direção à casa. Era uma casa tradicional de dois andares com um prático telhado de duas águas e alpendre fronteiro, e estava coberta de luzes de Natal. Riley tocou à campainha.

Uma mulher abriu a porta com um sorriso encantador. Era magra e estava em forma, usando equipamento de jogging. A sua expressão era luminosa e alegre.

“Bem, devem ser os Agentes Jeffreys e Paige,” Disse ela. “Chamo-me Kelsey Sprigge. Entrem. Saíam deste frio horrível.”

Kelsey Sprigge conduziu Riley e Bill até uma confortável sala de estar com uma lareira acolhedora.

“Gostariam de beber alguma coisa?” Perguntou. “É claro, estão de serviço. Vou buscar café.”

Foi para a cozinha e Bill e Riley sentaram-se. Riley observou as decorações de Natal e as inúmeras fotografias penduradas nas paredes e pousadas na mobília. Eram fotos de Kelsey Sprigge em vários momentos da sua vida adulta com filhos e netos à sua volta. Em muitas das fotografias, um homem sorridente estava a seu lado.

Riley lembrava-se de Flores ter dito que Kelsey era viúva. Pelas fotografias, Riley percebeu que fora um casamento longo e feliz. De alguma forma, Kelsey Sprigge tinha conseguido alcançar o que sempre escapava a Riley. Ela tinha vivido uma vida familiar plena ao mesmo tempo que trabalhava como agente do FBI.

Riley não se importaria nada de lhe perguntar como o tinha conseguido. Mas é claro que aquele não era o momento adequado.

A mulher regressou rapidamente trazendo um tabuleiro com duas chávenas de café, natas e açúcar, e – para surpresa de Riley – um whiskey com gelo para ela.

Riley estava espantada com Kelsey. Para uma mulher com setenta anos, era extremamente enérgica e cheia de vida, e mais dura do que a maior parte das mulheres que conhecera. De alguma forma, Riley sentia que era quase como olhar para o seu próprio futuro e ver a mulher em que ela se tornaria.

“Bem, então,” Disse Kelsey, sentando-se e sorrindo. “Gostava que o nosso clima fosse mais acolhedor.”

Riley estava espantada com a sua descontraída hospitalidade. Nas circunstâncias em que se encontravam, pensava que encontraria uma mulher alarmada.

“Senhora Sprigge…” Começou Bill.

“Kelsey, por favor,” Interrompeu a mulher. “E sei porque é que estão aqui. Estão preocupados que o Shane Hatcher venha atrás de mim, que eu seja o seu primeiro alvo. Pensam que ele me quer matar.”

Riley e Bill entreolharam-se, sem saber muito bem o que dizer.

“E é claro que é por esse mesmo motivo que aqueles polícias estão lá fora,” Disse Kelsey, ainda sorrindo de forma adorável. “Disse-lhes para entrarem e se aquecerem mas eles não quiseram. Nem me deixaram sair para a minha corrida da tarde! Uma pena, eu simplesmente adoro correr com este tempo vigoroso. Bem, não estou preocupada em ser assassinada e não me parece que me deva preocupar. Não penso que o Shane Hatcher pretenda fazer isso.”

Riley quase perguntou, “Por que não?”

Mas em vez disso, disse cautelosamente, “Kelsey, você apanhou-o. Levou-o à justiça. Ele estava na prisão por sua causa. Você pode ser o motivo por que ele fugiu.”

Kelsey não disse nada por alguns instantes. Olhava a arma no coldre de Riley.

“Qual é a sua arma, querida?” Perguntou.

“Uma Glock de calibre quarenta,” Disse Riley.

“Boa!” Disse Kelsey. “Posso vê-la?”

Riley entregou a sua arma a Kelsey. Kelsey retirou a munição e examinou a arma. Manuseava-a com a delicadeza de um connoisseur.

“As Glocks chegaram tarde para mim,” Disse Kelsey. “Mas gosto delas. A armação polimérica é boa – muito leve, equilíbrio excelente. Adoro a disposição da mira.”

Voltou a colocar a munição na arma e entregou-a a Riley. Depois dirigiu-se a uma secretária e dali tirou a sua pistola semiautomática.

“Atingi o Shane Hatcher com esta preciosidade,” Disse, sorrindo. Entregou a arma a Riley e depois voltou a sentar-se. “Smith and Wesson Modelo 459. Feri-o e desarmei-o. O meu parceiro queria matá-lo no local – vingança pelo polícia que tinha assassinado. Bem, eu não o podia permitir. Disse-lhe que se matasse Hatcher, haveria mais do que um corpo para enterrar.”

Kelsey corou um pouco.

“Oh,” Disse. “Gostava que essa história não se divulgasse. Por favor, não contem a ninguém.”

Riley devolveu-lhe a arma.

“De qualquer das formas, sabia que a minha atitude teve a aprovação de Hatcher,” Disse Kelsey. “Sabem, ele tinha um código rígido, mesmo enquanto membro de um gang. Ele sabia que eu só estava a fazer o meu trabalho. Penso que ele respeitou isso. E que também ficou grato. De qualquer das formas, nunca demonstrou qualquer interesse por mim. Eu até lhe escrevi algumas cartas, mas ele nunca me respondeu. Provavelmente nem se lembra do meu nome. Não, tenho a certeza que ele não me quer matar.”

 

Kelsey olhou para Riley com interesse.

“Mas Riley – posso tratá-la por Riley? – disse-me ao telefone que o visitou na prisão, que o chegou a conhecer. Ele deve ser uma personalidade fascinante.”

Riley pensou detetar uma nota de inveja na voz da mulher.

Kelsey levantou-se da cadeira.

“Mas olhem só para mim a falar enquanto vocês têm um bandido para apanhar! E quem sabe o que ele está a planear neste preciso momento. Tenho algumas informações que vos podem ajudar. Venham daí, vou mostrar-vos tudo o que tenho.”

Kelsey conduziu Riley e Bill por um corredor até à porta de uma cave. Riley ficou subitamente nervosa.

Porque é que tem que ser numa cave? Pensou

Riley tinha uma ligeira mas irracional fobia por caves há algum tempo – vestígios do SPT de estar presa no espaço exíguo em que Peterson a mantivera e mais recentemente por ter apanhado um outro assassino numa cave completamente escura.

Mas ao seguirem Kelsey pelas escadas, Riley não viu nada de sinistro. A cave era usada como sala de recreio. A um canto estava uma área de escritório bem iluminada com uma secretária coberta de pastas manila, um quadro com velhas fotografias e recortes de jornais, e algumas gavetas de arquivo.

“Aqui está – tudo o que querem saber sobre ‘Shane the Chain’ e a sua carreira e a sua queda,” Disse Kelsey. “Estejam à vontade. Perguntem alguma coisa que não entendam.”

Riley e Bill começaram a percorrer as pastas. Riley estava surpreendida e entusiasmada. Era informação arrojada e fascinante, muita da qual nunca tinha sido digitalizada para a base de dados do FBI. A pasta que agora percorria estava pejada com items aparentemente pouco relevantes, incluindo guardanapos de restaurante com notas escritas à mão e esboços relacionados com o caso.

Abriu outra pasta que continha relatórios e outros documentos fotocopiados. Riley divertia-se por saber que Kelsey não os devia ter fotocopiado ou guardado. Os originais há muito que deviam ter sido destruídos depois de digitalizados.

Enquanto Bill e Riley revolviam o material, Kelsey observou, “Devem estar a pensar porque é que não me livrei destas coisas. Às vezes eu própria penso nisso.”

Ficou a pensar durante alguns instantes.

“Shane Hatcher foi o meu único contacto com o mal,” Disse. “Durante os meus primeiros catorze anos no FBI, quase só fazia trabalho administrativo no departamento de Syracuse – a mulher simbólica. Mas trabalhei neste caso desde a raiz, falei com membros de gangs nas ruas, liderei a equipa. Ninguém pensou que eu pudesse apanhar o Hatcher. Na verdade, ninguém tinha a certeza que alguém o pudesse apanhar. Mas eu consegui.”

Agora Riley percorria uma pasta com fotos de má qualidade que o FBI não se devia ter dado ao trabalho de digitalizar. É claro que Kelsey não as deitara fora.

Uma mostrava um polícia a falar com o membro de um gang. Riley imediatamente reconheceu o jovem como sendo Shane Hatcher. Demorou mais um pouco para reconhecer o polícia.

“Este é o agente que o Hatcher matou, não é?” Perguntou Riley.

Kelsey anuiu.

“Agente Lucien Wayles,” Disse ela. “Eu é que tirei essa foto.”

“O que faz ele a conversar com o Hatcher?”

Kelsey sorriu.

“Bem, isso é algo interessante,” Disse. “Suponho que tenham ouvido dizer que o agente Wayles era um polícia exemplar, condecorado. Isso é o que a polícia local ainda quer que todos pensem. Na verdade, ele era corrupto. Nesta foto, tinha-se encontrado com Hatcher para fazer um acordo com ele – uma partilha dos lucros da droga para não interferir no território de Hatcher. Hatcher recusou-se. E Wayles tentou forçá-lo a aceitar.”

“Como sabem, a coisa não resultou favoravelmente para o agente Wayles,” Disse Kelsey.

Riley começou a compreender. Era exatamente este tipo de material que ela procurava. Colocara-a muito, mas muito mais próxima da mente do jovem Hatcher.

Ao olhar para a foto de Hatcher e do polícia, Riley sondou a mente do jovem. Imaginou os pensamentos e sentimentos de Hatcher no momento em que a foto foi tirada. Também se lembrou de algo que Kelsey acabara de dizer.

“Sabem, ele tinha um código rígido, mesmo para membro de um gang.”

Das conversas que entabulara com Hatcher, Riley sabia que ainda hoje isso era verdade. E agora, olhando para a foto, Riley sentia o nojo visceral de Hatcher perante a proposta de Wayles.

Ofendeu-o, Pensou Riley. Soou-lhe a insulto.

Não admirava que Hatcher tivesse feito de Wayles um exemplo. De acordo com o código distorcido de Hatcher, era a coisa certa a fazer.

Dedilhando mais fotos, Riley encontrou uma de outro membro de gang.

“Quem é este?” Perguntou Riley.

“Smokey Moran,” Disse Kelsey. “O tenente em quem Shane the Chain mais confiava – até eu o prender por vender droga. Apanhou uma pena muito longa por isso não tive dificuldade em que ele cooperasse contra Hatcher em troca de alguma clemência. E foi assim que finalmente acabei com o Hatcher.”

Ao entregar a foto, Riley sentia um formigueiro na pele.

“O que foi feito de Moran?”

Kelsey abanou a cabeça.

“Ainda anda por aí.” Disse. “Muitas vezes penso que não devia ter feito aquele acordo. Há anos e anos que lidera todo o tipo de atividades de gang. Os membros mais jovens olham para ele e admiram-no. Ele é esperto e esquivo. Os polícias locais e o FBI nunca o conseguiram apanhar.”

Aquela sensação de formigueiro aumentou. Riley entrou na cabeça de Hatcher, cismando na prisão durante décadas a respeito da traição de Moran. No universo moral de Hatcher, um homem desses não merecia viver. E a justiça já era tardia.

“Tem a sua morada atual?” Perguntou Riley a Kelsey.

“Não, mas tenho a certeza que o departamento tem. Porquê?”

Riley respirou fundo.

“Porque o Shane vai lá matá-lo.”

CAPÍTULO SETE

Riley sabia que Smokey Moran estava em grande perigo. Mas a verdade era que Riley não morria de amores pelo bandido de carreira.

Só Shane Hatcher importava.

A sua missão era prender Hatcher novamente. Se o apanhassem antes de matar Moran pela antiga traição, tudo bem. Ela e Bill iriam à morada de Moran sem qualquer aviso prévio. Ligariam para o departamento local do FBI para que reforços fossem lá ter com eles.

Era uma viagem de meia hora a partir da casa de Kelsey Sprigge situada numa Searcy de classe média até aos bairros sinistros de gangs de Syracuse. O céu estava nublado, mas não caía neve e o trânsito fluía normalmente nas estradas limpas.

Enquanto Bill conduzia, Riley acedeu à base de dados do FBI e fez uma pesquisa rápida no seu telemóvel. Concluiu que a situação local com os gangs era grave. Os gangs tinham-se formado e reagrupado nesta área desde começos dos anos 80. Na época de Shane the Chain eram sobretudo gangs locais. Desde essa altura, os gangs de dimensão nacional tinham entrado em cena, trazendo consigo níveis de violência mais exacerbados.

As drogas que alimentavam esta violência com os seus lucros haviam-se tornado mais estranhas e muito mais perigosas. Agora incluíam cigarros ensopados em fluído de embalsamamento e cristais que induziam paranoia chamados de “sais de banho”. Quem poderia adivinhar as substâncias ainda mais mortíferas que surgiriam de seguida?

Quando Bill estacionou em frente ao prédio degradado onde vivia Moran, Riley viu dois homens com casacos do FBI a saírem de outro carro – os Agentes McGill e Newton que os haviam recebido no aeroporto. Percebeu pelo volume que usavam coletes Kevlar debaixo dos casacos. Ambos traziam consigo espingardas de sniper Remington.

“A casa de Moran fica no terceiro andar,” Disse Riley.

Quando o grupo de agentes entrou no prédio pela porta da frente, depararam-se com vários membros de gang na entrada fria e degradada. Limitavam-se a estar ali com as mãos enfiadas nos bolsos dos casacos e pareciam não prestar atenção ao esquadrão armado que acabara de entrar.

Guarda-costas de Moran?

Não parecia a Riley que tentassem parar o seu pequeno exército de agentes, apesar de poderem avisar Moran de que alguém ia a caminho.

McGill e Newton pareciam conhecer aqueles jovens. Os agentes deram-lhes umas palmadas rápidas nas costas.

“Viemos ver Smokey Moran,” Disse Riley.

Nenhum dos jovens abriu a boca. Apenas fitavam os agentes com uma expressão estranha e vazia. Pareceu um comportamento estranho a Riley.

“Saiam,” Disse Newton e os tipos assentiram e saíram pela porta da frente.

Com Riley à frente, os agentes percorreram três lanços de escadas. Os agentes locais mostraram o caminho, verificando cada corredor cuidadosamente. No terceiro andar pararam à porta do apartamento de Moran.

Riley bateu com força na porta. Quando não obteve resposta, gritou.

“Smokey Moran, sou a Agente do FBI Riley Paige. Os meus colegas e eu queremos falar consigo. Não lhe queremos fazer mal. Não estamos aqui para o prender.”

Mais uma vez, nenhuma resposta.

Riley virou a maçaneta. Para sua surpresa, a porta não estava trancada e a porta abriu-se sem dificuldade.

Os agentes entraram num apartamento bem cuidado e desinteressante com total ausência de decoração. Não havia uma televisão, aparelhos eletrónicos ou sequer um computador. Riley percebeu que Moran conseguia exercer uma tremenda influência no submundo do crime apenas com ordens diretas. Ao nunca estar online ou usar um telefone, permanecia fora do radar da polícia.

Definitivamente um cliente astuto, Pensou Riley. Às vezes, a forma mais antiquada de fazer as coisas funciona melhor.

Mas dele nem sinal. Os dois agentes locais revistaram todos os quartos e armários. Ninguém se encontrava no apartamento.

Desceram as escadas. Quando chegaram à entrada, McGill e Newton ergueram as suas espingardas, prontos para a ação. Os jovens do gang esperavam-nos no fundo das escadas.

Riley observou-os. Compreendeu que era óbvio que tinham ordens para deixar Riley e os colegas revistar o apartamento vazio. Agora parecia que tinham algo a dizer.

“O Smokey disse que calculava que viessem,” Disse um deles.

“Disse-nos para vos deixarmos uma mensagem,” Disse outro.

“Ele disse para irem ter com ele ao velho armazém Bushnell na Dolliver Street,” Disse ainda um terceiro.

Depois, sem proferirem mais uma palavra, os jovens afastaram-se, deixando espaço aos agentes para passarem.

“Ele estava sozinho?” Perguntou Riley.

“Estava quando saiu daqui,” Respondeu um dos jovens.

Pairava no ar uma espécie de presságio. Riley não sabia como o interpretar.

McGill e Newton não tiraram os olhos dos jovens enquanto os agentes saíam do prédio. Uma vez lá fora, Newton disse, “Sei onde fica esse armazém.”

“Eu também,” Disse McGill. “Fica a poucos quarteirões daqui. Mas não estou a gostar disto. Aquele lugar é perfeito para montar uma emboscada.”

Pegou no telemóvel e pediu mais reforços para lá irem ter.

“Temos que ter cuidado,” Disse Riley. “Mostrem-nos o caminho.”

Bill conduzia seguindo o SUV local. Ambos os carros estacionaram em frente a um decrépito edifício de tijolo de quatro andares com uma fachada em ruínas e janelas estilhaçadas. Logo a seguir, outro veículo do FBI chegou.

Observando o edifício, Riley percebeu o que McGill quisera dizer e por que quisera mais reforços. O lugar era enorme e decrépito com três andares de janelas escuras e partidas. Qualquer uma daquelas janelas podia facilmente esconder um atirador com uma espingarda.

Toda a equipa estava armada com armas de cano longo, mas Riley e Bill apenas tinham pistolas. Podiam transformar-se em alvos fáceis num tiroteio.

Ainda assim, uma cilada era algo que não fazia sentido para Riley. Depois de evitar astutamente ser preso durante três décadas, por que é que um tipo como Smokey Moran faria algo tão imprudente como abater agentes do FBI?

Riley comunicou com os outros agentes pelo rádio.

“Ainda estão a usar o Kevlar?” Perguntou.

 

“Sim,” Responderam.

“Ótimo. Fiquem quietos no carro até vos dizer para saírem.”

Bill já tinha chegado às traseiras do SUV bem abastecido onde encontrara dois coletes Kevlar. Ele e Riley colocaram-nos. Depois Riley encontrou um megafone.

Baixou a janela e falou na direção do edifício.

“Smokey Moran, somos do FBI. Recebemos a sua mensagem. Viemos vê-lo. Não lhe queremos fazer mal. Saia do edifício com as mãos no ar e vamos falar.”

Riley esperou um minuto. Nada aconteceu.

Riley falou outra vez pelo rádio a Newton e McGill.

“O Agente Jeffreys e eu vamos sair do veículo. Quando sairmos, vocês saiem também – com as armas em riste. Encontramo-nos na porta de entrada. Mantenham o olhar para cima. Se virem algum movimento no edifício, protejam-se imediatamente.”

Riley e Bill saíram do SUV, e Newton e McGill saíram do seu carro. Outros três agentes armados até aos dentes saíram do veículo que chegara e juntaram-se a eles.

Os agentes moviam com cautela em direção ao edifício, olhando para as janelas com as armas prontas. Por fim, atingiram a segurança relativa da enorme porta de entrada.

“Qual é o plano?” Perguntou McGill, parecendo bastante nervoso.

“Prender Shane Hatcher se aqui estiver,” Disse Riley. “Matá-lo se necessário. E encontrar Smokey Moran.”

Bill acrescentou, “Temos que vasculhar todo o edifício.”

Riley percebeu que os agentes locais não tinham gostado muito deste plano. Não os podia censurar.

“McGill,” Disse Riley. “comece no rés-do-chão e depois vá subindo. O Jeffreys e eu vamos para o último andar e vamos descendo. Encontramo-nos a meio.”

McGill assentiu. Riley vislumbrou um sinal de alívio no seu rosto. Sabiam que era menos provável encontrar perigo na parte inferior do edifício. Bill e Riley estariam a colocar-se num perigo muito maior.

Newton disse, “Vou subir com vocês.”

Riley percebeu a firmeza das suas palavras e não colocou objeções.

Bill abriu as portas e os cinco agentes entraram. Um vento gelado assobiava nas janelas do andar inferior, um espaço vazio com postes e portas para várias salas adjacentes. Deixando McGill e mais três a começar por ali. Riley e Bill dirigiram-se para a mais ameaçadora escadaria. Newton seguia-os de perto.

Apesar do frio, Riley sentia o suor nas luvas e na testa. Sentiu o coração bater e era com dificuldade que mantinha a respiração sob controlo. Não importava quantas vezes já tinha passado por aquilo, nunca se habituaria. Ninguém poderia.

Finalmente entraram no vasto último andar.

O cadáver foi a primeira coisa que chamou a atenção de Riley.

Estava atado direito a um poste com fita adesiva, tão desfigurado que já não parecia humano. Correntes estavam enroladas em redor do seu pescoço.

A arma preferida de Hatcher, Recordou Riley.

“Tem que ser o Moran,” Disse Newton.

Riley e Bill entreolharam-se. Sabiam que ainda não deviam recolher as armas – ainda não. O corpo podia muito bem ser o isco de Hatcher para os atrair para o espaço aberto.

Ao aproximarem-se do homem morto, Newton tinha a espingarda pronta.

Ao aproximar-se do corpo, poças geladas de sangue prendiam-se às solas dos sapatos de Riley. O rosto estava espancado de tal forma que era impossível reconhecê-lo, só através de ADN ou registos dentários seria possível chegar a uma identificação. Mas Riley não tinha dúvidas de que Newton tinha razão; tinha que ser Smokey Moran. Grotescamente, os olhos ainda estavam bem abertos e a cabeça estava de tal forma presa ao poste com fita adesiva que parecia estar a fitar Riley.

Riley olhou à sua volta outra vez.

“O Hatcher não está aqui,” Disse ela, guardando a arma.

Bill fez o mesmo e caminhou ao lado de Riley em direção ao corpo. Newton permaneceu vigilante, segurando a sua espingarda em posição de disparo e virando-se constantemente para vigiar todos os ângulos.

“O que é isto?” Perguntou Bill, apontando para um pedaço de papel dobrado que saía do bolso do casaco da vítima.

Riley tirou o pedaço de papel onde estava escrito:

“Um cavalo encontra-se preso a uma corrente de 24 elos e come uma maçã que se encontra a 8 metros de distância. Como é que o cavalo chegou à maçã?”

Riley ficou tensa. Não a surpreendia que Shane Hatcher tivesse deixado um enigma. Entregou o papel a Bill. Bill leu-o, depois olhou para Riley com uma expressão intrigada.

“A corrente não está presa a nada,” Disse Riley.

Bill anuiu. Riley sabia que ele compreendera o significado do enigma:

Shane the Chain estava agora liberto.

E começava a desfrutar da sua liberdade.

Bepul matn qismi tugadi. Ko'proq o'qishini xohlaysizmi?