Ascensão

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CAPÍTULO QUATRO

Kevin se encolheu quando Xan Mais Puro entrou na sala em que ele e Chloe estavam. Ficar lá parado sozinho e esquecido já era ruim o bastante, mas de algum modo ele sabia que não seria tão ruim quanto qualquer coisa que o alien quisesse fazer agora.

“Medo é uma fraqueza,” Xan Mais Puro disse, as palavras saindo um momento depois através do tradutor. “Apenas uma das muitas que superamos.”

“O que quer dizer?” Kevin perguntou. Tentou segurar o medo que sentia também, porque não queria que o alien visse.

Chloe parecia assustada o bastante pelos dois, mas também com raiva. Se a gravidade retorcida não estivesse lá, segurando os dois nas armações, Kevin suspeitava que ela teria atacado o alien.

“Uma vez, fomos seres mais fracos,” Xan Mais Puro disse, gesticulando de forma que uma sessão da parede se transformou em uma tela, mostrando coisas que eram e não eram como os Mais Puros, ao mesmo tempo. Não tinham a pele tão lisa, ou a mesma graça ou aparência de perfeição, e certamente não tinham o senso de implacabilidade fria dos Mais Puros. Pareciam com o tipo de coisa que os Mais Puros podiam ter sido há muito, muito tempo.

“Nós lutamos e guerreamos uns com os outros. Transformamos nosso planeta natal em um lugar praticamente inabitável com as armas que usamos.”

A imagem na tela mudou, exibindo um mundo que começou verde e bonito, apenas para toda vida vegetal murchar e morrer, explosões cascateando pela superfície, fogo e vento se espalhando em ondas do que pareciam ser os corações das cidades.

“Tivemos que nos adaptar.”

“Atacando os mundos de outras pessoas,” Kevin disse. “Nos enganando pra te deixarmos entrar e tomar a mente das pessoas.”

“Vocês são malignos,” Chloe acrescentou. “São todos monstros.”

Xan Mais Puro olhou para eles sem um pingo de emoção. Kevin duvidava que a criatura era capaz de sentir, e de certa forma isso era mais assustador do que se Chloe estivesse certa. Essas criaturas não eram maliciosas, nem cheias de ódio, ou determinadas a destruir tudo que temiam. Agiam de forma tão fria e calma quanto uma geleira passando por uma cidade, sem se importar com as vidas lá dentro.

“Seus mundos não são importantes,” Xan Mais Puro disse. “Vocês não são da Colmeia. Não são dos Mais Puros.”

“Você acha mesmo que são as únicas coisas que importam no universo?” Chloe exigiu.

“Somos os Mais Puros,” Xan retrucou, como se isso explicasse tudo. “Criamos a Colmeia para resolver as guerras do nosso mundo. Ao nos unirmos, aprendemos a nos colocar acima da fraqueza de emoções. Aprendemos dos mundos mais próximos como transformar os inferiores em tudo que precisamos que sejam. Construímos as naves da Colmeia para nos transportar e juntar materiais com os quais regenerar nosso mundo para os Mais Puros.”

“Então você só pega e pega e não dá nada de volta,” Kevin disse.

“Tudo mais é inferior,” Xan Mais Puro disse. “Tudo é nosso.”

“Até a gente te impedir,” Chloe disse, lutando contra a gravidade que a segurava. Se fosse parecida com a gravidade que segurava Kevin no lugar, ele sabia que ela não tinha chance de se livrar, mas imaginou que dizer isso para ela não fosse fazê-la parar. Na verdade, provavelmente ia piorar as coisas.

“Você é fraca. Não pode impedir a Colmeia,” Xan Mais Puro disse.

“Então por que ainda estamos aqui?” Kevin perguntou. “Se acha que somos tão fracos e inúteis, por que não nos matou assim que chegamos na sua... nave?”

“Não destruímos o que é útil,” Xan Mais Puro disse. “Coletamos. É nosso propósito.”

Útil. Kevin não sabia se gostava da ideia de ser útil para um negócio desses. Pelo que tinha visto das criaturas que os aliens consideravam úteis, eles saíam remodelando sua carne, as transformando. Já tinha sentido a dor envolvida só dos aliens examinarem seus pensamentos. As visões que teve do planeta dos aliens foram ainda piores.

“Não quero ser útil pra você,” Kevin disse.

“Não tem escolha,” Xan Mais Puro disse. “Deveria ser grato. Os escolhidos de um planeta são tipicamente destruídos, para que não sejam... uma ameaça para nós. Você sobreviveu porque o permitimos.”

“Por quê?” Kevin insistiu.

Xan Mais Puro não respondeu por alguns momentos. Em vez disso, o alien se movimentou pela sala, ajustando alguns dos maquinários.

“Vão olhar nossos pensamentos de novo, Kevin,” Chloe disse, aterrorizada pela ideia. “Vão usar aqueles tentáculos de novo.”

“Não em você,” Xan Mais Puro disse, quase desdenhoso. “Será intrigante o bastante dissecá-la e remodelá-la. Sua mente é bastante interessante, mas você não é digna de mais.”

“Não pode dissecar a Chloe!” Kevin gritou, lutando contra a gravidade que o prendia. Ela o segurou na armação com facilidade, não importava o quanto lutasse. A pressão o achatava, como um peso pressionado no peito.

“Podemos fazer o que quisermos,” Xan Mais Puro disse. “Se esse é o melhor uso da fêmea para a Colmeia, é o que será feito. Mas seremos generosos. Você poderá escolher o que acontecerá com ela.”

“Então eu escolho que não seja dissecada!” Kevin disse.

“Depois que terminarmos,” Xan Mais Puro disse. “Quando você se juntar a Colmeia.”

“O quê?” Kevin disse. Balançou a cabeça. “De jeito nenhum.”

O alien se moveu na sua direção, o aparelho com tentáculos em seus dedos.

“Seu cérebro tem capacidades que são necessárias para a Colmeia,” Xan Mais Puro disse. “De forma que vai se juntar a nós.”

O alien fez soar como se fosse um fato inegável, simplesmente o jeito que o mundo funcionava. Fez a ideia soar tão óbvia e natural quanto água molhada, ou sol quente. Mas não havia nada natural sobre a coisa com tentáculos que Xan Mais Puro segurava.

“E daí?” Kevin exigiu, mais porque qualquer momento que pudesse adiar essa história parecia uma boa ideia. “Vai me transformar num dos Mais Puros que nem você? E aí eu perco todo meu cabelo e fico com esses olhos bizarros?”

Talvez se Kevin irritasse o alien o bastante, poderia distraí-lo do que estava para fazer. Claro, ele podia decidir fazer uma série toda de coisas muito piores, mas naquele momento, Kevin não podia imaginar nada pior do que se transformar num deles.

“Você não é dos Mais Puros,” Xan Mais Puro disse. “Mas pode ser transformado em um da Colmeia. Vai se transformar em nosso emissário, um de nossos escolhidos. Deveria se felicitar com a honra.”

“Acha que é uma honra pro Kevin ter o cérebro invadido?” Chloe exigiu.

“Não será uma invasão,” Xan Mais Puro disse. “Kevin irá nos receber. Irá concordar em ser um dos nossos.”

“Por que eu tenho que concordar?” Kevin exigiu. “Por que não faz isso logo se vai mesmo fazer, em vez de ficar com joguinhos?”

O alien pareceu quase ofendido, embora Kevin duvidasse que pudesse sentir essa emoção. Duvidava que pudesse sentir qualquer coisa.

“Não jogamos,” disse. “Mas os cérebros da sua espécie são delicados, e necessitamos do seu intacto para as tarefas que a Colmeia tem para você. Se lutar demais durante o processo, existe a possibilidade que ele seja... danificado.”

“Eu vou lutar,” Kevin prometeu. “Prefiro morrer do que fazer qualquer coisa pra te ajudar.”

O alien ficou parado o encarando, aparentemente sem compreender o que ele tinha dito. Franziu o rosto levemente, inclinando a cabeça para um lado como se escutasse algo que só ele podia ouvir. Kevin sentiu que estava tentando decifrá-lo, e decidir o que devia fazer no meio tempo.

“Sua declaração é tola,” Xan Mais Puro disse. “Render-se é do seu interesse. Poderá continuar a existir.”

“Já estou morrendo mesmo,” Kevin disse, lembrando-se do momento que o médico o diagnosticara com sua doença, explicado quão pouco tempo ele tinha para viver. “Acha que eu me importo com essas ameaças?”

O alien o encarou por mais alguns momentos, e de novo, e Kevin sentiu que recebia conselhos dos outros de sua espécie.

“Podemos salvá-lo,” ele disse, soltando as palavras como pesos de chumbo.

O choque que correu por Kevin era como água gelada. Os melhores cientistas que a Terra tinha para oferecer tinham tentado e falhado em ajudar. E agora aqui estavam os aliens, oferecendo sua saúde como se não fosse nada.

“É mentira,” ele disse. Tinha que acreditar que estava mentindo. “Você já mentiu sobre tanta coisa, acha que eu vou acreditar nisso?”

Pensou em todos os jeitos que eles tinham mentido para fazê-lo ajudar com a invasão da Terra. Tinham dito que eram refugiados procurando abrigo em outro planeta. Tinham dito que estavam fugindo da destruição, não a causando.

“Você viu o que podemos fazer,” Xan Mais Puro disse. “Podemos manipular a carne em modos que sua mente humana não pode imaginar. Os Mais Puros da Colmeia são preservados quase indefinidamente. Para nós faz todo sentido mantê-lo vivo. Poderíamos curá-lo, se fosse da Colmeia.”

O que Kevin poderia dizer a esse tipo de tentação? Era tudo que ele queria desde que o médico explicou o que estava acontecendo. Quando estava no instituto da NASA, secretamente tinha tido esperanças que um dos cientistas ali podia achar um jeito de ajudá-lo, acabar com os tremores e a dor. Tinha pensado que daria quase qualquer coisa para ficar bem de novo. Kevin precisou de tudo que tinha para sacudir a cabeça.

“Se preciso morrer pra que você não consiga o que queira, é isso que eu vou fazer,” Kevin disse. E era sério. Ele queria viver, tinha tido esperanças de se curar, mas nessa altura já tinha tido bastante tempo de aceitar o que ia acontecer com ele. Se morrer podia impedir os aliens... bom, ele não queria, mas faria.

 

“E quanto ao resto que a Colmeia pode oferecer?” Xan Mais Puro disse. “Estamos cientes que sua espécie valoriza amigos e família. Como um de nós, poderia decidir o que fazer com aqueles que controlamos.”

Kevin engoliu em seco, pensando em sua mãe, pensando em Luna. Havia tantas pessoas que ele conhecia na Terra, tão longe que não era mais visível no monitor. Se pudesse ajudá-los... não, se os aliens queriam alguma coisa dele, isso não ajudaria ninguém.

“E existe a questão da sua amiga aqui,” Xan Mais Puro disse. “Como este aqui disse, como membro da Colmeia, você poderia determinar o seu destino. Se não aceitar, realizaremos experimentos na fêmea enquanto você assiste.”

Kevin congelou, olhando do alien para Chloe e de volta.

“Não, Kevin. Não faz isso,” Chloe disse. Kevin podia ouvir seu desespero. “Deixa eles me matarem. O que for preciso!”

Kevin podia ouvir a sinceridade em sua voz, mas... não podia fazer isso. Não podia ficar lá e assistir enquanto Chloe morria. Sabia que iam fazer isso. Havia alguma coisa a respeito do modo frio e sem emoção em que Xan fez sua ameaça que a transformava em algo mais. Não exatamente uma ameaça, mas uma simples declaração do que aconteceria.

“Vamos transformá-lo de qualquer jeito,” Xan Mais Puro disse. “É simplesmente uma questão de quanto você lutará e quanto irá doer. Faça sua decisão, Kevin McKenzie.”

“Lute contra eles, Kevin,” Chloe disse. “Não desiste!”

Kevin olhou para ela, tentando não pensar em todas as coisas que os aliens podiam fazer com ela. Mas era impossível fazer qualquer coisa além de imaginar o que poderia acontecer se fizessem experimentos nela. Ele podia mesmo ficar parado assistindo se eles começassem a abri-la para descobrir como funcionava, ou transformá-la em alguma coisa que não era humana? Podia mesmo fazer isso, quando tudo que conseguiria era ser transformado a força?

Não podia, e sabia disso.

“Ok,” ele disse, odiando cada momento. “Pode fazer.”

“Teríamos feito de qualquer modo,” Xan Mais Puro assegurou. “Doerá mais quanto mais você resistir.”

“Kevin,” Chloe disse. “Por favor lute. Você tem que ficar você mesmo. Tem que ser forte.”

Essa, Kevin percebeu, era a única esperança. Eles não podiam se soltar. Não podiam lutar fisicamente. Sua única chance era se juntar a Colmeia, e de alguma forma conseguir manter suficiente de si mesmo...

Nem terminou o pensamento antes de Xan Mais Puro aplicar os tentáculos em seu crânio, e a Colmeia invisível perfurar seu cérebro.

Kevin gritou com a dor, veloz e súbita, como uma lança de gelo apunhalando os fundos de sua mente. Pensou que estava acostumado à dor; com sua doença, achou que sabia o que era sentir dor, mas agora percebia que não era nada comparado ao que estava acontecendo. Podia sentir os tentáculos explorando seus pensamentos e memórias, a sensação desconfortável e familiar demais, da última vez que os aliens tinham examinado sua mente.

Mas era diferente, porque os aliens não estavam só olhando dessa vez.

Kevin podia sentir a Colmeia dentro de seus pensamentos, mentes e mais mentes, interligadas e poderosas. Era frio e quente e doloroso ao mesmo tempo. Pareciam cacos de vidro raspando seus pensamentos. Podia sentir as massas de controlados nas beiradas, nem sequer uma parte verdadeira do todo. Podia sentir as bordas afiadas das criaturas de guerra, e os pensamentos mais lentos, mais macios das bestas de carga. E ali estavam os Mais Puros e seus servidores, fios brilhantes dentre a teia completa.

Venha para nós, eles urgiam, vozes profundas e sedutoras. Torne-se nós.

Kevin tentou se afastar, e o esforço doeu mais do que podia imaginar. Se escutou gritando, mas o som parecia vir de muito longe. Eram como garras prendendo-o no lugar, enganchadas em seu cérebro, poderosas demais para ignorar.

Mesmo assim, Kevin lutou. Podia sentir a Colmeia se movendo dentro dele, conquistando partes de sua mente como um exército invasor conquista campos e cidades. Kevin começou a esconder pedaços de si mesmo, lembrando como tentou esconder quão assustado estava pelo bem da mãe, tentando ocultar tudo que podia enquanto os aliens continuavam a avançar em sua mente. Se conseguisse esconder o suficiente, poderia ser capaz de se manter a parte da Colmeia. Podia continuar a ser ele mesmo.

Sentiu o momento quando foi conectado, quando passou de ver todos os fios a se tornar um deles. Podia escutar as mensagens e os pensamentos dos outros, os comandos dos Mais Puros e a obediência do resto.

Uma mente que descontrói, um dos Mais Puros pensou em sua direção.

Uma mente que é tudo que precisamos, outro concordou.

Kevin podia sentir a presença de Xan Mais Puro ao seu lado. Acorde, Kevin, junte-se a sua nova vida.

Kevin abriu os olhos, e não podia lembrar de tê-los fechado. O mundo ao seu redor parecia estranho, coberto em um verniz de cores novas, detalhes que nunca teria percebido antes saltando aos seus olhos. Como se pudesse se focar em cada partícula de pó e frações de mudança de cor.

Olhou em volta para as máquinas, e a Colmeia dentro de si o informou para que cada uma servia. Tinha conseguido guardar uma parte de si mesmo? Kevin não sabia. Se sentia como si mesmo, embora todo o resto do mundo parecesse estranho. Parecia mais vivo e mais conectado do que ele jamais tinha imaginado.

Xan Mais Puro se moveu em sua direção, para os controles da armação. O alien os operou, e Kevin sentiu a gravidade que o prendia no lugar se mover de volta para o chão.

“Bem vindo a Colmeia, Emissário Kevin,” Xan Mais Puro disse.

CAPÍTULO CINCO

Luna e os motoqueiros correram dos controlados que os cercavam, disparando para suas motos, tentando chegar lá antes que a velocidade superior daqueles que os aliens controlavam os trouxessem perto demais. Luna correu na direção de onde tinha parado sua própria moto, deitada de lado com o banco de passageiro no ar, obviamente tombada no caos que se seguiu ao momento em que a agarraram.

Ela lutou para levantá-la, empurrando com o corpo todo, o peso fazendo parecer que estava empurrando uma parede sólida. Luna sentiu a moto se mover levemente enquanto empurrava, e finalmente virou, levantando uma pequena nuvem de pó ao bater no chão ao lado da estrada.

“Sobe, Bobby,” ela chamou o cachorro, que ainda estava ocupado rosnando para a horda de controlados que avançava, como se pudesse espantá-los. “Depressa!”

Ela apontou para o banco de carona, e o cachorro entendeu, pulando para dentro e sentando lá, olhando em volta com os dentes de fora. Olhando para trás, Luna viu o motivo: os controlados estavam se aproximando, correndo daquele modo em que estavam mais próximos do que deveriam toda vez que piscava. Luna foi dar partida na moto, determinada a se afastar tanto dos controlados quanto pudesse...

Não queria ligar.

“Agora não,” Luna rosnou entre os dentes, enquanto o motor tossia e cuspia. “Vai logo!”

Ela jogou o peso todo na partida uma vez, e de novo. Podia ver os controlados se aproximando, a apenas vinte metros, depois dez. Luna podia sentir o medo crescendo dentro de si. Não queria saber o que os controlados fariam com alguém que não era mais um deles.

Pisou na partida de novo, com o peso todo em cima dela, e a moto rugiu de volta à vida. Luna não hesitou, acelerando tão rápido quanto se atreveu, para longe da multidão rompante de controlados. Sentiu o peso quanto uma mão dormente prendeu sua moto, uma mulher com pupilas cegas segurando com tanta força que a moto a arrastou junto, fazendo-a quicar no chão quando mesmo sua velocidade acentuada não foi o bastante para acompanhar.

Luna se viu tentando lembrar se tinha visto essa mulher enquanto eram obrigados a trabalhar. Se viu pensando na pessoa que ainda podia estar presa por trás desses olhos, aquela que podia estar lutando para se impedir mesmo enquanto avançava para Luna. Agora Luna sabia exatamente quão horrível era ser um dos controlados, e sabia que não havia nada que a pessoa lá dentro podia fazer para resistir.

Por outro lado, sabia que eles não sentiam dor.

“Desculpa,” Luna disse, chutando a mulher de seu assento na moto até que ela caiu de volta na estrada, permitindo que a moto de Luna se atirasse para frente tão forte que ela teve que se agarrar para não cair.

Ao seu redor, Luna viu os membros do Clube de Motocicletas de Dustside agarrando suas motos e se afastando em formação, as motos em V como se pudessem derrubar qualquer coisa em seu caminho. Ela viu Ignatius pular atrás da moto de Bear, ainda agarrado a sua preciosa arma de vapor.

Agora haviam mais controlados saindo das ruas laterais, se atirando nas motos de todas as direções. A única escolha parecia ser continuar avançando o mais rápido possível, na esperança de que a pura velocidade pudesse levá-los para além da massa de controlados antes que eles pudessem cercá-los, como água derramada em uma vasilha. Luna estava feliz de acelerar. Ter medo da velocidade era melhor do que pensar na chance de ser desmembrada por controlados.

“Não parem!” Luna gritou para os outros, tão alto quanto pode para ser ouvida por cima do barulho das motos. “A gente precisa fugir.”

Continuaram a correr, o mais rápido que podiam. Com os controlados chegando atrás e pelos lados, as motos pularam para longe da massa como rolhas de uma garrafa. Em um instante, estavam em campo limpo, correndo por Sedona, tentando se afastar o máximo possível da horda. Agora estavam se movendo mais rápido do que os controlados podiam acompanhar, na direção da periferia da cidade.

“Acho que é seguro,” Cub chamou, com um sorriso que dizia o quanto estava feliz por estar livre do controle dos aliens.

Luna sorriu de volta para ele, porque estava igualmente feliz de ter fugido. Estava feliz que ele foi salvo também. Não teria gostado da ideia de Cub ficar para trás enquanto ela fugia com os outros. Se aproximou dele, prestes a responder, embora não soubesse muito bem o que falar. Talvez que estava feliz por ele estar lá, talvez mais que isso.

O que quer que fosse, as palavras morreram na garganta quando o brilho de alguma coisa no céu chamou sua atenção, crescendo a cada momento.

“Uma nave!” Luna gritou, olhando de frente para ela.

A nave era uma das menores, mas parecia mais elegante do que as outras, e mais perigosa. Enquanto as outras eram abelhas operárias construídas para levar cargas até as naves maiores, essa parecia mais com uma vespa, de bordas afiadas e mortífera, projetada para matar o que estivesse em seu caminho.

“Está vindo pra cá!” Luna gritou.

Avançou rapidamente, e Luna se perguntou de onde tinha visto. A nave grande acima de Sedona se fora. Até a nave planeta parecia ter partido, desparecendo do céu tão rápido quanto veio. Essa aí devia ter vindo de uma das outras naves, pairando sobre outras cidades para recolher o que pudessem. Pela velocidade com que avançava, devia ter disparado na direção deles tão rápido quanto os motores aguentaram.

“Eles mandaram uma nave de outra cidade por causa da gente?” Cub gritou.

Não fazia sentido que uma nave pudesse alcançá-los tão rápido, ou que eles fossem importantes assim para os aliens. Mas não podia pensar em nenhum outro motivo para uma nave como aquela estar avançando em sua direção tão rápido, ou tão baixo, apenas algumas dezenas de metros acima do chão. Voltar a si mesmos depois de serem controlados parecia ter irritado os aliens mais do que qualquer outra coisa que fizeram.

“Devem ter sentindo pessoas se libertando do controle,” Luna disse.

“Eu percebi que os controlados sempre vem correndo atrás do que eu faço,” Ignatius explicou, de trás da moto de Bear. “Acho que querem me impedir de ajudar as pessoas.”

Luna pensou nos aliens que a haviam controlado. Como reagiriam a pessoas se libertando? Como reagiriam a qualquer perda de controle, quando tudo que pareciam querer era tomar mais e mais?

Luna achou que viu alguma coisa começar a brilhar na frente da nave, um laranja queimado que fazia parecer que alguém botou fogo no nariz do casco. Tentou decidir se era um truque da luz, e então um pensamento muito mais horrível lhe ocorreu.

“Sai da frente!” ela gritou, arrancando a moto para o lado tão rápido que precisou de toda força que tinha para se segurar.

A estrada a frente de seu pequeno comboio explodiu em uma onda de energia que rasgou o asfalto, espirrando terra e pedras para todo o lado. Luna viu uma das motos derrapar e capotar, o motorista rolando pelo chão quando a estrada despareceu sob suas rodas.

 

Luna saiu da estrada, ignorando os pulos e trancos do chão desigual enquanto pedras e bueiros ameaçam derrubá-la. A sua volta, podia ver os outros motoqueiros seguindo atrás, se dirigindo ao terreno menos liso, se afastando das linhas retas da estrada enquanto a nave alienígena zunia acima. Outra bolha de terra e rochas saiu voando quando a nave atirou, e então passou por eles, tombando num ângulo afiado quando começou a virar de volta.

Eram alvo fácil ao ar livre. Luna podia ver a nave alienígena se afastando, preparando outro ataque. Se atirasse à distância, teria bastante tempo para mirar e acertar todos eles. Precisavam encontrar abrigo, e tinha que ser agora.

Luna olhou em volta e a pontou para um dos vales de rocha vermelha perto de Sedona.

“Ali!” ela gritou. “É nossa única chance.”

Ela forçou o motor, a moto acelerando para frente com as outras seguindo em seu encalço. Terra explodiu a sua volta quando a nave passou de novo, e por um momento ou dois, Luna não podia ver nada a sua frente. Quando a nuvem de pó passou o bastante para enxergar de novo, teve que se jogar para esquerda para evitar os restos de uma árvore, despedaçada pelo último ataque. Luna só torcia para estar guiando os outros na direção certa.

Eles se dirigiram ao vale, mergulhando em sua boca e acelerando para dentro. Relâmpagos de energia explodiram contra as paredes, levantando pó e lançando rochas de modo que Luna teve que guinar e desviar para evitá-las. Elas rugiram e quicaram enquanto caíam, zunindo ao passar por sua cabeça, tão próxima que teve que se abaixar para desviar.

“A nave está baixando!” Cub chamou de algum lugar perto de Luna. Luna sabia que era melhor manter os olhos no caminho a frente através do vale, mas não pode se impedir de arriscar uma olhada para trás.

A nave alienígena estava voando praticamente a nível do chão, se movendo pelo vale em seu encalço enquanto tentava mirar os próximos tiros.

“Mais rápido,” Luna disse.

“Não dá pra despistar essa coisa,” Cub retrucou.

“Não precisamos despistar,” Luna gritou. “Só descobrir quão rápido faz a curva.”

Ela viu Cub sorrindo quanto entendeu, e seu grupo de motoqueiros acelerou, avançando pelo vale.

“Segura aí, Bobby,” Luna disse.

Luna se agarrou a motocicleta, passando pelos cantos e curvas tão rápido quanto se atrevia, e então mais rápido. As rochas vermelhas dos penhascos se agigantavam à sua volta em pilhas desiguais, as pedras que rolavam quando atingidas pelos raios de energia uma lembrança de quão facilmente tudo podia dar errado. Uma curva muito rápida, um toque do guidão para o lado errado, e ela e Bobby iam ser jogados nas paredes do vale, rápido demais para sobreviver.

Luna agarrou o guidão forte, dobrada sobre ele, e acelerou.

Arriscou olhar para trás. A nave alienígena ainda estava lá, virando os cantos e curvas com eles, atirando a queima-roupa quando não conseguia mirar um tiro perfeito. Balançava de um lado para outro enquanto acelerava pelo vale, e então, sem aviso, Luna viu uma de suas bordas bater numa parede.

“Cuidado!” ela gritou, enquanto a nave quicava de uma lado para o outro, lutando para estabilizar o voo enquanto ricocheteava como uma bola de bilhar, faíscas voando ao colidir com uma parede, depois outra, se precipitando para o chão do vale.

O barulho quando se chocou com a terra pareceu preencher o mundo, pó voando pelo ar enquanto a nave colidia de nariz até tudo atrás ficar escurecido. Luna e os outros tiveram que continuar correndo apenas para ultrapassar a nuvem. Mas estavam ficando sem espaço, porque o vale estava terminando, selado por uma parede de rocha pontuada apenas pela abertura de um grande bueiro. Luna se dirigiu para lá, esperando que a nave fosse parar antes de esmagar todos eles contra a parede. Freou próxima da rocha, se encolhendo enquanto a nave se aproximava.

Mas aos poucos ela desacelerou, guinchando e arranhado pelo caminho como um prato caído de uma mesa até que finalmente, chacoalhando, ela freou.

Luna parou na frente dela, os outros formando um meio-círculo a sua volta, motores ainda ligados. Escutou um chiado de ar escapando quando uma porta próximo do topo se abriu, e ficou parada em choque quando uma figura saiu cambaleando.

Não era um dos controlados. Não havia nada humano na figura esguia e insectoide que saiu com esforço pela porta, coberta de placas espinhosas que pareciam armadura, mas armadura quebrada, com rasgos que vazavam fluido transparente no chão enquanto avançava.

“É um deles?” escutou Ignatius perguntando em voz alta. “É assim que os aliens se parecem?”

“Faz diferença com o que se parecem quando a gente sabe o que eles querem?” Luna perguntou.

“Mas podemos estudar esse aí,” Ignatius disse. “Temos que tentar capturá-lo.”

O alien continuou a se aproximar, avançando para eles como se ainda fosse encontrar um modo de matá-los.

“Peguem ele!” Bear gritou, e os motoqueiros de Dustside caíram em cima com socos e canos e facas, atacando com tudo que tinham. Luna escutou as placas de armadura racharem com um som doentio, que a lembrava demais de alguém pisando em um besouro.

“Não,” Ignatius disse, “tem tanta coisa para aprendermos.”

Mas naquele momento, Luna sentia que aprenderam o mais importante: tinham descoberto qual era a aparência de um de seus inimigos, e que eles podiam morrer.

Então uma luz piscou na frente da nave, se torcendo no ar, assumindo a forma de uma figura alta e sem cabelo que não se parecia nada com a criatura que haviam matado. Ela falou, e alguma tecnologia no holograma traduziu as palavras, do mesmo modo que as caixas no acampamento de escravos.

“Vocês mataram um de nossos servidores,” a criatura disse. “Mas não um dos Mais Puros. Não importa. Vocês não importam. São um obstáculo a ser removido, e serão, a não ser que se rendam agora.”

“A gente já viu o que acontece,” Luna gritou de volta. “E nos libertamos. Vamos liberar todo mundo!”

“Não irão obstruir a Colmeia. Irão morrer.”

Piscou até desaparecer, e no céu atrás de onde estivera, Luna achou que podia ver as formas de outras naves se aproximando. Parecia que os aliens não iam se segurar quando se tratava de matá-los.

“A gente precisa sair daqui,” Luna disse.

“Não tem nenhum caminho fácil pra passar pela nave,” Cub disse, “e se nós sairmos a céu aberto, eles vão nos pegar na hora.”

“Então vamos entrar no bueiro,” Luna disse.

Bear olhou para ele, depois para ela e Cub. “Não gosto de deixar as motos pra trás.”

“Eu acho que é isso ou morrer, pai,” Cub disse.

“O que você acha?” ele perguntou a Luna.

Ela se surpreendeu. Bear era o líder dos motoqueiros. Mas também, tinha sido ela que os guiou para o vale. Talvez eles pensassem que sabia o que estava fazendo.

“Acho que não temos escolha,” ela disse.

Bear concordou. “Acho que não.”

“Ignatius,” Luna disse. “O que eu disse agora praquela coisa... nós podemos salvar todo mundo, certo?”

“Acho que é melhor discutirmos esse assunto quando estivermos a salvo,” Ignatius disse. “eu explico tudo, mas não aqui, ok?”

“Ok,” Luna disse, olhando para trás, para onde as naves alienígenas estavam se aproximando. A única questão agora era se algum dia estariam seguros de novo.

Ela correu para o bueiro. Atrás dela, podia escutar as primeiras explosões quando os aliens atiraram.

Bepul matn qismi tugadi. Ko'proq o'qishini xohlaysizmi?